Desmatamento pode matar bichos e coloca em perigo biodiversidade do Parque Previdência

Uma obra nas vizinhanças do Parque Previdência, no Butantã, está mobilizando moradores e defensores do meio ambiente. O terreno fica na altura do número 1.820 da rua Eliseu de Almeida, no Jardim Rolinópolis. Já foram cortadas 30 árvores, a vegetação foi totalmente desmatada e essa mudança radical ameaça diretamente a biodiversidade do parque paulistano.

Espécies vistas apenas na área, como a ave migratória Chibante (Laniisoma elegans) e a cobra corredeira (Thamnodynastes strigatus), que constam do Guia dos Parques Municipais e da Fauna Silvestre, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente, correm risco de desaparecer.

imagem do Chibante do catálogo dos Parques Municipais e da Fauna Silvestre, da Secretaria do Verde e Meio Ambiente

A denúncia e as informações sobre o parque são dos moradores da região, dos conselheiros do Parque e do Cades (Conselho Regional do Meio Ambiente), através de mensagens nas mídias sociais.  O grupo entrou com denúncia no Ministério Público (inquérito civil 635/2022-1), enviou carta ao coordenador de planejamento da subprefeitura do Butantã e criou um abaixo-assinado para pedir a preservação do Parque da Previdência e de seu entorno, com providências e o embargo da obra.

Foto do terreno, feita pela fotógrafa Mila Maluhy

“A obra ameaça também a flora e a fauna do nosso parque: mais de 89 espécies catalogadas, entre eles saguis e gambás e 321 espécies de plantas. Tudo isso em uma das poucas reservas de Mata Atlântica da cidade de São Paulo”, diz o manifesto.

Os moradores dizem que o desmate já atinge e afugenta a fauna do parque, que também fica na beira da rodovia Raposo Tavares.

Segundo reportagem publicada na Gazeta de Pinheiros, a área deverá abrigar uma empresa de que instalaria ali kartódromo, boliche, fliperama, salões de festas e restaurante.

Foto do terreno, feita pela fotógrafa Mila Maluhy

Se o empreendimento de entretenimento for de fato instalado, luzes fortes até muito tarde da noite e barulho intenso vão aumentar a fuga das espécies que se abrigam no parque e consequentes atropelamentos e mortes nas ruas do entorno.

Em maio, o Instagram da empresa anunciava que a obra estaria pronta no primeiro trimestre de 2023: “É com coração partido, que o SP Diversões está se despedindo da localização atual, nossa expectativa e programação era de permanecer no local até o dia 31 de dezembro de 2022 para uma transição tranquila e assim inaugurar a novíssima sede, uma Mega Loja que está sendo construída ao lado do metrô São Paulo – Morumbi, infelizmente por força maior o prazo de desocupação do local foi antecipado e estamos fechados até a inauguração da nova sede. (Mega loja metrô São Paulo Morumbi prevista para primeiro trimestre de 2023.)”

Na manhã do dia 22 de julho, moradores fizeram uma manifestação pela manhã em frente ao terreno. A Guarda Civil Municipal estava lá e o grupo atravessou o portão de ferro e constatou o desmatamento, um desbarrancamento causado por corte vertical do terreno e água empoçada na terra revolvida, o que indica a presença de nascentes no local.

Reportagem do “SP1” no mesmo dia informou que o Ministério Público foi acionado e que foi aplicada uma multa de R$ 15 mil à empresa. A área é uma Zepam, zona especial de proteção ambiental, com remanescente de Mata Atlântica. 

O caso ilustra sinteticamente a dificuldade de defender as áreas verdes das zonas urbanas no país. Como se sabe, além da conservação dos animais silvestres e da flora muitas vezes nativa , essas áreas são capazes de reduzir efeitos da poluição e dos ruídos urbanos, baixar as temperaturas e a velocidade dos ventos, e manter a umidade do ar e com isso uma reserva hídrica local.

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