Uma história do conforto doméstico

MARA GAMA
DO UNIVERSO ONLINE

“Casa, a Pequena História de uma Idéia”, escrito em 1986, é um ensaio instigante sobre o conforto. Arquiteto, Witold Rybczynski apresenta o livro anunciando que seu ponto de partida é a sua ignorância sobre o tema.

Ainda na apresentação, dá início a uma insistente queixa contra seus colegas de profissão. Para Rybczynski, os arquitetos desde sempre se esquivaram do trabalho de criar ambientes confortáveis.

Rybczynski recupera o nascimento do conceito de conforto e disserta com erudição descomplicada sobre as idéias de comodidade, domesticidade, privacidade, intimidade, interioridade e bem-estar ligadas à vida familiar nos últimos quatro séculos. Para isso, reconstitui cenários que se concentram na Holanda, no século 17, e Inglaterra, França e Estados Unidos, nos séculos 18, 19 e 20.

Não é pouco. O artificioso anúncio do prefácio -a ignorância do pesquisador- não se confirma. Com desenvoltura, Rybczynski cruza informações retiradas da pintura, da literatura, com citações e informações de origem mais “coloquial”, retiradas de catálogos, artigos de jornais, livros técnicos e manuais de conselhos sobre economia doméstica.

O resultado é um texto inteligente. O fôlego do leitor tende a minguar nos trechos em que o autor destila ódio infantil contra a arquitetura moderna, “culpada” pela descontinuidade da idéia e da tarefa de criar conforto.

Fazendo uso de idéias surradas que não combinam com a ousadia do livro, Rybczynski assume postura nostálgica e tradicionalista. Pode ser pura provocação e o livro não perde seu valor por isso, mas o apelo ao senso comum soa como demagogia para capturar o leitor leigo. Os herdeiros de Le Corbusier podem chamá-lo, sem cerimônia, de reacionário.

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